Comunidade do Bongaba, em Magé, na Baixada Fluminense, foi escolhida por seu histórico de resistência e participação popular

Pela primeira vez no Brasil, um quilombo abriu a Campanha Nacional de combate à hanseníase. O evento de lançamento aconteceu na terça-feira (9), na comunidade do Bongaba (Ilé Asé Ògun Alàkòrò), em Magé, na Baixada Fluminense, e reuniu gestores de saúde municipais, estaduais e federais.
Para marcar o “Janeiro Roxo”, mês de conscientização e combate à doença, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) preparou um conjunto de ações programadas para 53 quilombos do estado. Em Bongaba, além de palestra e apresentação teatral, também foi prestado atendimento à população. O evento foi organizado pela SES-RJ em parceria com a Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio de Janeiro (ACQUILERJ) e a Secretaria Municipal de Saúde de Magé.
O local, criado em 1696, foi escolhido por ser um importante território de resistência e participação popular. A campanha deste ano tem o tema: “Hanseníase não tenha preconceito, identifique, trate e cure”. Segundo dados do Ministério da Saúde de 2022, o Rio de Janeiro ocupa a 13ª colocação em taxa de detecção de novos casos de hanseníase no Brasil e 850 casos da doença estão em tratamento no estado.
Para Mário Sérgio Ribeiro, subsecretário de Vigilância e Atenção Primária à Saúde (Subvaps), que representou a secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello, o evento dá visibilidade a uma doença que é negligenciada pela sociedade. “O estado, como membro da federação, precisa se aproximar dessas questões. Para isso, é fundamental ir aos territórios e procurar os casos, conscientizar seus membros e tratar a doença. Esse tipo de ação tem força para disseminar a informação e possui grande apelo social”, disse Mário Sérgio Ribeiro.
O gerente de hanseníase da Secretaria de Estado de Saúde, André Luiz da Silva, ressaltou o pioneirismo de um quilombo em abrir a campanha de conscientização e combate à hanseníase. “É a primeira vez no Brasil que uma campanha é lançada em uma comunidade quilombola. Isso tem relevância, pois eles têm tradição de engajamento, participação e saberes tradicionais. É uma troca de experiências, que permite uma adesão maior ao tratamento. São locais que apresentam dificuldade de acesso e precisam do poder público para que a doença não fique escondida”, relatou André Luiz da Silva.
Pai Paulo José de Ogun, liderança do quilombo Ilé Asé Ògun Alàkòrò, disse que o território é um local de resistência, reparação, veracidade e história ancestral. No quilombo são ensinados gratuitamente jongo, maracatu, capoeira e curso de pré-vestibular para jovens carentes.
O assessor Especial do Ministério da Saúde, Valcler Rangel Fernandes, ressaltou o compromisso da pasta em criar estruturas para que a União olhe para as periferias. Segundo ele, a construção deve ser coletiva para o enfrentamento da hanseníase e os quilombos são locais de grande potência. O evento também teve a participação da secretária municipal de Magé, Larissa Storte, entre outros.
A aula magna foi conduzida por Egon Daxbacher, médico do Instituto Estadual de Diabetes Luiz Capriglione (Iede), consultor e dermatologista do Ministério da Saúde, e teve como ponto central a mobilização social. Ele destacou a participação de todos os entes da federação no enfrentamento à doença, além de dar voz e vez às comunidades. Houve também apresentação teatral do Grupo Morhan (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase) e o rastreamento da doença com exame físico.
Fonte: Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro