Em Campos, profissionais negros empenham-se por maior visibilidade e funções de liderança

Durante todo este mês, temas relacionados ao Dia da Consciência Negra, comemorado no dia 20, são debatidos em vários segmentos da sociedade brasileira. Em Campos dos Goytacazes, diferentes profissionais se reuniram em torno dos projetos Afroprotagonismo e Elevador Social, no Centro de Convenções da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. O encontro promovido no último dia 13 contou com propostas e reflexões para tornar aumentar a participação de pessoas negras com equidade racial em empresas e organizações.


O empresário José Mário Soares é engenheiro e fundador do Elevador Social. Ele conta sobre o projeto lançado em Campos no Mês da Consciência Negra. “Ser fundador desse projeto é viver um propósito. Nasceu de um sentimento, quando percebi em um curso empresarial em São Paulo, que eu era o único negro numa turma de empresários de todo o Brasil. O Elevador Social surge para dar visibilidade e oportunidades a pessoas pretas, especialmente no mundo corporativo no que diz respeito aos cargos de liderança. O projeto continua abrindo portas acelerando trajetórias e inspirando empresas, instituições e organizações a olharem para a diversidade racial como um compromisso real e transformador”.


O advogado Adilson Gama faz parte da equipe de profissionais da cidade que buscam por mais oportunidades para a população negra. “Gostaria de ressaltar que o Afroprotagonismo não é um evento isolado, mas parte de uma estratégia mais ampla de transformação. Quando associações, sindicatos e universidades se unem para viabilizar projetos como o Elevador Social. Na prática, estão promovendo justiça social e democratizando o acesso a oportunidades. É isso que transforma o Novembro Negro em um compromisso vivo e contínuo com a equidade racial”, comenta.


Fazer parte dos projetos, segundo o arquiteto Higor Andrades, representa contar com espaço de visibilidade, escuta e valorização das trajetórias de profissionais negros. “É sobre ocupar lugares que historicamente foram negados, mas também sobre construir novas referências. O protagonismo que buscamos não é só individual, é coletivo. É mostrar que pessoas pretas podem, sim, estar à frente de projetos, de escritórios, de marcas, inspirar outras a acreditarem no próprio potencial. Fazer parte do Elevador Social é uma honra e uma responsabilidade. A proposta de elevar pessoas através do conhecimento, da arte e da cultura tem tudo a ver com o que eu acredito: transformar realidades”, revela.
Reflexões e debates
A jornalista Cláudia Eleonora considera o Dia da Consciência Negra como data de potência da memória, resistência e compromisso com um futuro de transformação social mais igualitário. “Um futuro que ainda estamos construindo. O projeto Elevador Social é muito importante para promover essa transformação estrutural da sociedade que tanto esperamos. Eu, que já exerci cargo de liderança em uma empresa, reconheço a necessidade de ampliar oportunidades para a melhoria da qualidade de vida, para o desenvolvimento regional. Eu quero olhar para o lado e ver mais pessoas pretas em ambientes que ainda são restritos, não por falta de qualificação profissional, mas por falta de visão e de oportunidades”.


A cientista social Simone Pedro defende a equidade racial nas organizações e por mais pessoas negras em espaços de decisão e liderança. “No Brasil inteiro, somente 8% das pessoas negras, dentro das organizações, ocupam espaço de liderança. Isso está muito aquém da realidade que se encontra na sociedade brasileira, em que mais de 50% da população é uma concentração de pessoas pretas e pardas. Se a população negra constitui maioria, a gente entende que as organizações não estão conectadas com a nossa realidade. A gente espera que o protagonismo de pessoas negras esteja não só dentro das colaborações, das execuções, mas principalmente nas lideranças e tomadas de decisão”, conclui.
