Acusada de corrupção e alvo do escândalo dos relógios de luxo, líder peruana é substituída pelo chefe do Parlamento, José Jerí

O Congresso do Peru aprovou, na madrugada desta sexta-feira (10), o afastamento da presidente Dina Boluarte, por “incapacidade moral permanente”. A decisão, tomada por votação unânime, encerra um governo marcado por denúncias de corrupção e forte rejeição popular. O chefe do Parlamento, José Jerí, de 38 anos, assumiu o cargo de forma interina logo após a sessão.
A moção de destituição, assinada por 34 parlamentares de diferentes partidos, cita graves acusações de enriquecimento ilícito, incluindo o chamado “Rolexgate”, que investiga o uso de relógios de luxo não declarados pela então presidente. O escândalo ganhou força após reportagem do programa “La Encerrona”, que exibiu imagens de Boluarte usando os acessórios em eventos oficiais.
Em seu primeiro pronunciamento, José Jerí afirmou que seu governo será “de reconciliação nacional” e declarou guerra ao crime organizado. “O principal inimigo está nas ruas: as gangues criminosas”, disse o novo presidente, que pertence ao partido conservador Somos Peru. Ele será o sétimo presidente do país desde 2016, reflexo da profunda instabilidade política.
Do lado de fora do Congresso, multidões celebraram a queda de Boluarte, enquanto havia especulações de que ela buscaria asilo na embaixada do Equador. Em discurso televisionado após a votação, a ex-presidente defendeu sua gestão: “Não pensei em mim mesma, mas nos peruanos”, declarou.
Dina Boluarte, de 63 anos, chegou à presidência em dezembro de 2022, após a destituição e prisão de Pedro Castillo, acusado de tentativa de golpe. Seu governo enfrentou uma onda de protestos violentos, principalmente em regiões andinas, com denúncias de repressão e violações de direitos humanos.
Com índices de aprovação entre 2% e 4%, Boluarte foi alvo de críticas por ter aumentado o próprio salário e por declarações polêmicas sobre imigração ilegal. O país atravessa uma grave crise de segurança: mais de 6 mil homicídios foram registrados entre janeiro e agosto, e as denúncias de extorsão cresceram quase 30% em relação a 2024.
As novas eleições estão marcadas para abril de 2026, e José Jerí prometeu entregar o poder ao vencedor do pleito. “Defenderei a soberania do Peru e trabalharei por um país em paz”, afirmou.
O caso de Boluarte se soma a uma longa série de crises políticas no país andino, que atualmente tem quatro ex-presidentes presos, incluindo Pedro Castillo, Alejandro Toledo, Ollanta Humala e Alberto Fujimori.