Acervo com mais de 30 mil livros está fora do alcance do público desde 2017

Maior biblioteca do interior do Estado Rio de Janeiro, a Biblioteca Municipal Nilo Peçanha permanece desativada há mais de seis anos. Segundo a Prefeitura de Campos, o espaço passa por reestruturação.
Em 2014, o acervo, que possui em torno de 30 mil livros, além de revistas e jornais, foi retirado do Palácio da Cultura. Mas permaneceu funcionando em diferentes sedes provisórias, até deixar definitivamente de servir ao público em 2017. O equipamento de pesquisa e fomento cultural completou 150 anos em 2022.
“O Palácio da Cultura receberá, em futuro próximo, as devidas intervenções estruturais para voltar a abrigar a biblioteca. O acervo de obras literárias encontrado pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), no Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho, foi analisado por técnicos e o material em condições de uso vem passando por um processo de restauração”, afirmou o governo municipal.
Para o historiador e escritor Aristides Soffiati, a situação simboliza falta de políticas públicas ou apreço cultural na cidade:


“Todo município que se preza mantém uma biblioteca pública. Conheci vários pequenos e pobres municípios que se orgulhavam de ter uma biblioteca, ainda que com poucos livros. Quando fiz mestrado e doutorado, frequentei muito a Biblioteca Nilo Peçanha para pesquisar. Recorri muito a jornais e a alguns livros. Inclusive, fiz doações de livros a ela. É lastimável ver agora a biblioteca toda encaixotada e com destino desconhecido”, enfatizou Soffiati.
Ao J3News, a presidente da FCJOL, Auxiliadora Freitas, detalhou como o município vem trabalhando para reestruturar o patrimônio público:
“Nossa biblioteconomista, nossa coordenadora da Biblioteca e duas estagiárias estão higienizando, recuperando e organizando todo o acervo, que conta com obras e documentos raríssimos. Nosso compromisso é devolver o espaço ao povo de nossa cidade. E este dia está se aproximando, já que as obras do Palácio da Cultura estão sendo licitadas”, explica.
Jornalista, escritor e professor, Vitor Menezes espera que o espaço volte a funcionar o mais rápido possível, renovado e dotado de novas tecnologias.


“Toda essa demora de muitos anos na resolução de um problema que envolve a biblioteca de um município do porte como o de Campos demonstra uma falta de prioridade que caracteriza muitos governos, com relação à área da Cultura. Quando envolve biblioteca, parece que tudo pode esperar, parece que é acessório. E por vezes um equipamento público como esse fica relegado até em último plano. Espero que possamos o mais rápido possível ter a nossa biblioteca de volta, renovada, com novas tecnologias, novo poder de atração, capacidade de organização do acervo e prestação de serviço aos nossos estudantes”, pontuou o jornalista, escritor e professor, Vitor Menezes.
História
A Biblioteca Municipal de Campos foi fundada em 1872. Um ano antes, o decreto estadual nº 1650 determinava que cada cidade do Rio de Janeiro tivesse uma biblioteca pública. Em 1889, a Câmara Municipal (à época instalada onde hoje é o Museu Histórico), recebeu 555 volumes de diversas obras, doadas pelo comendador João Gonçalves Pereira, testamenteiro do cônego Antônio Pereira Nunes.
Em 21 de abril de 1903, a Biblioteca Municipal de Campos foi inaugurada em um prédio anexo à Câmara. Já em 1967, o patrimônio público ganhou o nome de Biblioteca Municipal Nilo Peçanha, ano do centenário do nascimento do ex-presidente da República.
Palácio da Cultura desativado
A Biblioteca Municipal Nilo Peçanha saiu do Palácio da Cultura em 2014, quando a Prefeitura, à época governada por Rosinha Garotinho, fechou o local para dar início a obras estruturais. O prédio foi reaberto apenas em 2020, no penúltimo dia de mandato do então prefeito Rafael Diniz.
Nos primeiros dias de 2021, já no governo de Wladimir Garotinho, Auxiliadora Freitas fez uma visita ao prédio, cujas obras haviam sido entregues dias antes pela gestão passada, e apontou infiltrações, trechos de iluminação expostos, modificações irregulares e setores sem condições de uso.
Em setembro de 2021, Wladimir Garotinho apresentou o projeto do novo Palácio da Cultura, que iria integrar cultura, educação e ciência. Mas, desde então, não houve obra física para adequar o espaço. Com isso, a tradicional biblioteca seguiu fechada e permanece até os dias atuais.