Entre 2014 e 2024, o número de mulheres que denunciaram terem sido perseguidas ou assediadas no ambiente virtual passou de 55 para 2.834

Dados inéditos da edição temática de 20 anos do Dossiê Mulher, relatório produzido pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), autarquia do Governo do Estado do Rio de Janeiro, mostram que a violência psicológica, forma de abuso invisível que causa dano emocional e busca manipular a vítima, liderou os registros entre os crimes praticados contra mulheres no estado em 2024. Mais de um terço das vítimas (36,5%) sofreu esse tipo de violência, e em média, 153 mulheres foram vítimas desse crime no estado por dia, totalizando 56.206. Mais da metade dos abusos (67,3%) foram cometidos por pessoas conhecidas, sendo que a grande maioria eram os companheiros ou ex-companheiros dessas mulheres (49,6%), e as violências aconteceram dentro de casa (49,2%). Também chama a atenção o crescimento expressivo de registros de perseguição e assédio no ambiente virtual: foram 55 vítimas em 2014 contra 2.834 em 2024, um aumento superior a 5.000%, número que reflete também o avanço na conscientização das vítimas sobre a importância de denunciar crimes digitais.
Esses e outros dados sobre violência contra a mulher estão disponíveis no Dossiê Mulher 2025, relatório pioneiro produzido pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro há 20 anos. Ao longo de duas décadas, a publicação tem reunido indicadores que permitem acompanhar a evolução dos crimes e fornecer estatísticas oficiais para a criação de políticas públicas focadas na proteção, atendimento e acolhimento das mulheres vítimas.
“Os dados apresentados no Dossiê Mulher são um alerta e, ao mesmo tempo, um compromisso público: não recuaremos no enfrentamento à violência contra a mulher. Seguiremos avançando de forma coordenada, rigorosa e permanente, para enfrentar as diferentes formas de violências que ainda insistem em ameaçar as mulheres fluminenses. Cada número representa uma vida que precisa ser protegida, e é por isso que estamos ampliando políticas integradas, fortalecendo a rede de atendimento e investindo na prevenção e no acolhimento da mulher em sua integralidade. Seguiremos atuando com rigor, transparência e responsabilidade para garantir que todas as mulheres do nosso estado possam viver com dignidade e segurança”, afirmou o governador do estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro.
O estudo mostra também que quase metade das mulheres fluminenses que registraram uma denúncia de alguma violência numa delegacia policial foram vitimadas pelo companheiro ou ex. Esse número também é reforçado quando analisamos os locais de maior ocorrência desses crimes: mais da metade das agressões aconteceram dentro de uma residência (50,6%) e, na maior parte dos casos, pessoas do círculo de convivência dessas mulheres foram responsáveis pelas agressões cometidas. Segundo o Dossiê, mais de 154 mil mulheres foram vítimas de violência no estado do Rio de Janeiro, ou seja, 18 mulheres sofreram algum tipo de violência por hora em 2024.
“Completar 20 anos de Dossiê Mulher é reafirmar o compromisso do Governo do Estado com a proteção e acolhimento das mulheres fluminenses. Ao longo de duas décadas, os dados que divulgamos, de forma inovadora e pioneira, reforçam que políticas públicas integradas e baseadas em evidências são essenciais para prevenir violências, acolher as vítimas e responsabilizar os autores. O Dossiê não é apenas um relatório, ele é uma ferramenta estratégica que orienta ações e salva vidas”, explicou a diretora-presidente do ISP, Marcela Ortiz.
Feminicídio
Em 2024, 107 mulheres foram vítimas de feminicídio no estado do Rio de Janeiro e quase ⅔ dos feminicídios e tentativas de feminicídios ocorreram dentro de casa. Das 107 mulheres vítimas em razão de gênero em 2024, 71 eram mães; 33 tinham filhos menores de idade e 13 delas foram mortas na presença de seus filhos. Mais da metade já haviam sofrido outros tipos de violência, mas não chegaram a registrar a denúncia numa delegacia de polícia. A maior parte das vítimas de feminicídio tinham entre 30 e 59 anos (59,8%) e eram negras (71%).
Nesta edição, realizamos uma análise inédita do histórico de maus antecedentes criminais dos autores de feminicídio. Quase 60% dos agressores possuíam algum tipo de registro criminal pregresso e, em média, cada autor havia respondido por quatro crimes antes do feminicídio. Além disso, em 22,9% dos casos, os autores do crime haviam consumido álcool e drogas.
Outros delitos
A violência sexual é uma das violações mais brutais praticadas contra mulheres e meninas, sendo a maioria delas relacionadas à violação do corpo. O estupro se destacou com o maior número de vítimas mulheres, 5.013, seguido por importunação sexual (2.441) e assédio sexual (390).
Em relação ao estupro e estupro de vulnerável, 67,7% das vítimas denunciaram o crime em até um mês – representando um aumento significativo nos últimos anos. Esse número mostra uma maior confiança das mulheres nos mecanismos estatais disponíveis – como as Delegacias de Atendimento à Mulher (DEAM) e a Patrulha Maria da Penha. A maior parte dos casos aconteceu na Região Metropolitana do estado, no período da meia-noite e mais da metade das vítimas eram negras. No estupro de vulnerável, mais da metade das vítimas tinha até 11 anos. Já em relação aos estupros, a idade predominante foi entre 18 e 59 anos. Ao analisar a relação entre os autores e as vítimas, é possível observar que nos estupros de vulnerável, 48,1% dos autores eram do círculo de convivência da vítimas e, no estupro, 52,7%.
Cerca de 22 mil delas relataram que foram vítimas de violências simultâneas – a maior combinação foi entre as violências psicológica e moral, seguida pela física e psicológica. Mais da metade das mulheres possuíam entre 30 e 59 anos, e 14,5% das mulheres idosas foram agredidas pelos seus próprios filhos. Cerca de metade dos autores eram os companheiros ou ex e a maior parte das violências ocorreram dentro de uma casa.
Ações da Secretaria da Mulher
O Governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria de Estado da Mulher, tem ampliado as iniciativas voltadas à prevenção da violência contra as mulheres. Entre as ações de destaque está o acompanhamento de autores de violência por meio dos Grupos Reflexivos com Homens, realizados na Cadeia Pública Juíza Patrícia Acioli, em parceria com a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária e o Instituto Mapear. A medida tem apresentado resultados expressivos: dos 269 homens monitorados após participação no programa, apenas 2,3% voltaram ao sistema prisional por novos casos de violência doméstica.
“Enfrentar a violência contra a mulher exige ação contínua, baseada em evidências e com políticas articuladas e é exatamente esse caminho que a Secretaria da Mulher está construindo. Investir em prevenção, educação e redes de cuidado funciona e é assim, com rigor técnico e compromisso permanente, que seguimos trabalhando para que nenhuma mulher viva com medo”, disse a secretária de Estado da Mulher, Heloisa Aguiar.
O programa Nós+Segura leva ações educativas e de acolhimento às escolas estaduais, alcançando cerca de 600 mil estudantes, enquanto o Ônibus Lilás percorre municípios mais vulneráveis oferecendo atendimento jurídico, psicológico e social, além de promover autonomia por meio de informação, capacitação e empregabilidade. Soma-se a esse conjunto a plataforma “Não é Não! Respeite a Decisão”, que já capacitou mais de 13 mil trabalhadores de bares, hotéis, restaurantes e eventos, fortalecendo a rede de proteção e consolidando uma cultura de prevenção ao assédio em espaços de convivência.
Acesse aqui o Dossiê Mulher 2025 completo.
