quinta-feira, julho 3

Prefeito de Campos enviou carta ao governador Cláudio Castro denunciando sobrecarga financeira e pede providências

Prefeito Wladimir – Arquivo

O prefeito Wladimir Garotinho publicou vídeo na terça-feira (1º) nas redes sociais se queixando da suspensão de repasse de verbas da Secretaria de Estado de Saúde para o cofinanciamento do governo estadual e prefeituras. Ele acusou o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, de “covarde” e de querer prejudicar os serviços de saúde na cidade.  No dia 23 de junho, foi publicada no Diário Oficial a suspensão do repasse na gestão do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, enquanto cumpria mandato de governador em exercício, na licença de Cláudio Castro. Em carta enviada na segunda-feira (30), o prefeito de Campos dos Goytacazes, alertou Castro para o risco de colapso no sistema de saúde do município caso o Estado não assuma suas responsabilidades no cofinanciamento da média e alta complexidade.

Segundo o prefeito de Campos, a prefeitura tem arcado sozinha com atendimentos regulados pelo próprio governo estadual, sem contrapartida proporcional nem diálogo sobre a pactuação. Campos é município-polo na região Norte e Noroeste Fluminense e referência para dezenas de cidades, o que torna sua rede hospitalar sobrecarregada por pacientes vindos de outros municípios. De acordo com Wladimir, o Estado regula internações e procedimentos como cateterismos e cirurgias oncológicas, mas não arca com o custo total do atendimento, que envolve internações prolongadas em UTI, exames de alta complexidade, medicamentos caros e acompanhamento multiprofissional.

O prefeito afirma que a situação se repete em especialidades como nefrologia, cardiologia e oncologia, e que instituições filantrópicas contratadas pela rede estadual também pressionam a Prefeitura por repasses para manter os serviços.

“Todo o Teto MAC repassado pelo Ministério da Saúde — cerca de R$ 16 milhões por mês — está sendo usado nesses contratos, e ainda temos que aportar mais R$ 7 milhões mensais com recursos próprios”, afirma Wladimir.

Obras no HGG com parceria entre Estado e Prefeitura de Campos

A denúncia se estende à ausência completa de cofinanciamento estadual para a rede própria municipal. Entre os hospitais mantidos exclusivamente pelo Tesouro Municipal, o prefeito cita o Hospital Ferreira Machado, o Hospital Geral de Guarus e o Hospital São José. Somente a folha de pagamento dessas três unidades ultrapassa R$ 17 milhões por mês, sem qualquer participação do Estado.

“Programas considerados estratégicos também operam sem repasses estaduais. Entre eles, o SOS Coração, que realiza atendimentos de emergência cardiológica; o Hemocentro Regional, que abastece mais de 15 municípios; e o serviço de hemodiálise com quarto turno noturno, que atende uma demanda reprimida da região. Para manter essa estrutura funcionando, o município tem desviado recursos de áreas como assistência social, infraestrutura e políticas públicas para a população idosa”, disse em trecho da carta enviada ao governador.

Ainda segundo Wladimir, o desequilíbrio provocado por esse modelo ameaça o orçamento de Campos e empobrece a cidade que mais contribui com a saúde regional.

“Campos virou fiador involuntário de uma política de saúde regionalizada que não é financiada por quem a coordena”, denuncia o prefeito, apontando ainda que o Estado prioriza pacientes de outros municípios nas regulações, o que acaba aumentando a fila para os próprios campistas.

O documento foi encaminhado com cópia aos órgãos de controle e dá um prazo de 15 dias para que o Estado apresente uma resposta concreta. “Caso contrário, a Prefeitura de Campos poderá deixar de aceitar regulações fora da Programação Pactuada Integrada (PPI), o que vai certamente gerar colapso regional. O que está em risco é a continuidade de um modelo solidário e federativo, que não pode mais ser sustentado de forma unilateral”, conclui o prefeito.

Corte de repasses da Saúde

O J3News publicou na terça-feira (1º) reportagem sobre o cancelamento de repasse de verbas para a área de saúde (leia aqui). O Governo do Estado do Rio de Janeiro revogou o apoio financeiro à saúde do município de Campos dos Goytacazes por meio da Resolução SES nº 3657, assinada em 18 de junho de 2025. A medida anulou uma resolução anterior que previa recursos para este ano, sob justificativa de falta de orçamento disponível. A decisão foi publicada no Diário Oficial em 23 de junho, enquanto o governador Cláudio Castro estava em viagem internacional.

Presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar Arquivo

A revogação ocorre em meio a uma crise no cofinanciamento da saúde pública fluminense, que levou o Ministério Público a ajuizar uma ação civil pública contra o Estado, denunciando atrasos e falta de transparência nos repasses. O Tribunal de Justiça também interveio, determinando o bloqueio de mais de R$ 9 milhões das contas estaduais para transferência direta ao Fundo Municipal de Saúde de Campos.

Conflitos políticos

Em postagem no Instagram na terça-feira (1), Wladimir Garotinho fez um desabafo no vídeo que dura cerca de quatro minutos. Em determinado trecho, ele afirma que Rodrigo Bacellar é “covarde” e que estaria fazendo chantagem e pressão política por conta de apoio nas eleições de 2026.

Wladimir, Castro e Bacellar durante evento na CDL em 2021 na pandemia (Arquivo)

“Você é um cara covarde. E não adianta eu ficar te dando outros adjetivos além desses, eu poderia até dar vários. Mas Campos te conhece bem, sabe o cara covarde que você é. Fala muito grosso atrás do microfone, mas é covarde. Rodrigo, o povo da sua cidade vai morrer. Os municípios da região não poderão mais mandar pacientes para Campos, porque nós não teremos condições de atender. Então os pacientes das outras cidades, Rodrigo, também vão morrer por sua culpa, porque você não paga, não libera para pagar. E agora cancelou oficialmente o cofinanciamento de saúde da cidade de Campos”, cita Wladimir.

A reportagem entrou em contato com o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, sobre as acusações do prefeito de Campos e espera por resposta. A Secretaria de Estado de Saúde e a assessoria do Governo do Rio de Janeiro também foram procuradas para que se manifestassem a respeito da situação do cofinanciamento da saúde em Campos, e também aguarda posicionamento.  

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