Coppam aponta irregularidades e busca laudo definitivo; Prefeitura afirma que dará apoio quando solicitada, mas Enel não detalhou início da demolição

O futuro do Edifício Itu, um dos prédios mais emblemáticos do Centro de Campos dos Goytacazes, voltou a gerar debate após a instalação de tapumes ao redor da construção, há cerca de uma semana. A intervenção ocorreu logo depois de decisões judiciais que autorizaram a demolição do imóvel, a pedido da concessionária Enel, responsável pelo espólio. A empresa alega que a estrutura corre risco de ruir. Este assunto foi destaque em reportagens publicadas pelo J3News no dia 12 de novembro (leia aqui) e 23 de novembro (leia aqui).
No entanto, movimentos de preservação do patrimônio defendem que a derrubada seja interrompida até que um laudo definitivo comprove o real estado do edifício. O Conselho de Preservação do Patrimônio Arquitetônico Municipal (Coppam) e o Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes (IHGCG) se manifestaram enviando ofício ao Ministério Público Estadual.
Construído a partir de 1957 e projetado pelo arquiteto Joffre Maia, o Itu foi inaugurado nos anos 1960, mas seus três últimos andares jamais foram concluídos. O prédio já abrigou a antiga companhia de energia CELF, posteriormente Cerj, e, após a privatização, passou à administração da Ampla e, mais tarde, da Enel. Em agosto deste ano, a Justiça de Campos autorizou sua demolição. A Incorporadora Itu, responsável pela obra original, recorreu da decisão e pretende levar o caso às instâncias superiores para tentar impedir a derrubada.
Integrantes do Coppam registraram, em imagens, que os tapumes e proteções instalados ao redor do edifício provocaram avarias na calçada de pedras portuguesas — área sob tutela do próprio órgão. O Coppam afirma que a estrutura foi colocada de forma irregular e sem as devidas autorizações, violando normas de proteção do patrimônio municipal.
O conselho também reforça que aguarda a realização de um laudo técnico definitivo para avaliar se o edifício realmente oferece risco estrutural, algo que poderia alterar o entendimento sobre a demolição.
Questionada pelo J3News sobre o prazo das intervenções, data de início da demolição e acompanhamento da Defesa Civil, a Prefeitura de Campos esclareceu, por meio de nota, que o processo é de responsabilidade da Enel e de uma empresa particular contratada pela concessionária.
A administração municipal informou que dará apoio apenas quando solicitado, sobretudo quanto ao ordenamento do trânsito e à destinação de resíduos. Sobre a denúncia de instalação irregular dos tapumes, o governo afirmou que trata-se de uma ação relacionada ao cumprimento de decisão judicial, mas não se posicionou diretamente sobre as avarias na calçada de pedras portuguesas. A Defesa Civil local informou que o prédio não será implodido; a estrutura deve ser desmontada manualmente, andar por andar.
Informações da Enel
Na terça-feira (2), a reportagem do J3News entrou em contato com a Enel solicitando informações sobre o início e o término da demolição, além dos métodos que serão usados. Até o momento desta publicação, nesta quarta-feira (3), não houve respostas. Até o fechamento desta edição, nesta quarta-feira (3), a concessionária não respondeu aos novos questionamentos enviados.
(Foto: Silvana Rust)
Em 19 de novembro, a empresa enviou nota afirmando: “A Enel Distribuição Rio informa que está cumprindo a decisão judicial que determinou a demolição do prédio da Rua Treze de Maio, 150, em Campos dos Goytacazes. A distribuidora esclarece que, tão logo foi intimada, iniciou as tratativas com os órgãos municipais para cumprimento da decisão.”
Enquanto o impasse permanece, o Edifício Itu — símbolo da arquitetura e da memória urbana de Campos — segue dividido entre pressões pela demolição e esforços de preservação, aguardando os próximos desdobramentos na Justiça e nas instâncias de proteção patrimonial.
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Instituto Histórico e Geográfico de Campos
O pesquisador e memorialista Genilson Soares integra o IHGCG. Ele é um dos interessados na preservação do Edifício Itu. “Do ponto de vista jurídico, trata-se de uma decisão de primeira instância. Segundo a Incorporadora Itú, ainda há recursos pendentes de análise pela Justiça, além de outros proprietários que não teriam sido ouvidos ao longo do processo”.
De acordo com Genilson, sob a ótica do patrimônio cultural o caso ganha contornos mais sensíveis. “Como membro do IHGCG e preservacionista, ressalto que o edifício em questão é uma obra do mais importante arquiteto campista do movimento modernista, com atuação marcante entre as décadas de 1940 e 1960. Em março de 2023, o IHGCG promoveu, no Museu Histórico, um encontro dedicado à revisita da obra de Joffre Maia — já abordada em estudos e exposições realizadas em 1998 e 2009 pelos arquitetos Rodrigo Espinosa e Tetê Peixoto, com a participação do professor Leonardo Vasconcellos Silva” conta. O pesquisador complementa:
“Reconhecendo a relevância de Joffre Maia para a arquitetura de Campos, o Coppam concedeu recentemente tutela provisória para proteger seus projetos, diante do ritmo acelerado de demolições que vem descaracterizando a paisagem urbana da cidade. Embora eu não tenha tido acesso ao laudo que apontaria problemas estruturais — elaborado pela Ampla, antiga concessionária de energia antes da Enel —, é possível notar externamente que o edifício apresenta solidez construtiva.
Ainda segundo Genilson Soares, no momento em que tanto se discute a requalificação do Centro Histórico, “o caso se apresenta como uma oportunidade concreta de recuperação do Itu, originalmente concebido como edifício residencial e parte significativa da memória arquitetônica campista”, conclui.

